Dedicado à minha primeira e eterna fã, como ela mesma se intitulava, minha mãe.
★ 04/06/1968 † 27/09/2021
Eu estive rezando desde que você se foi
Me sinto doer por dentro o peito
O copo de lágrimas amargo, quase cheio
O nó que se desfaz em devaneio
E no travesseiro ainda sinto o cheiro
Na brisa e na bossa, busco em mesas e em portas
A saudade que deixou e me levou com você
Busco em esquinas e em becos
Um relapso do teu beijo
Que grudou no meu desejo e não trouxe mais pra mim
Busco em fotografias e memórias
Fragmentos da nossa história, interrompida à força
Mas que eu não jogo fora
Ainda me pego lembrando
Das brigas e discussões, não me demoro
Não há o que ser feito, nem o que falar
Então o que não tem remédio, remediado está
Ainda me pego pensando
Num futuro construído, que dissolveu como
Um rio e ruiu com meu viver
O pensamento de não ser mais, de não ter mais
Me consome as entranhas
Me faz querer romper a pele e fugir, correr, buscar
E me contentar
Mas não me contentarei, o teu riso não ouvirei
Seu cheiro não sentirei, o seu abraço
Seu beijo, sua voz, seu conselho
Seu amor que não cabe no peito me dói
E dói como nada nunca doeu
Dói a vida que ficou para trás
A vida que não terei
As memórias que não vêm
E as que nunca esquecerei
Dói a perda da inocência, a perda da certeza
Da segurança do cotidiano
Dói descobrir que nada é para sempre e que não tem data de validade
Vai embora a hora que vai, sem explicação
Sem aviso, sem dó nem piedade
E me deixa aqui, de mãos atadas
Deitada, encolhida dentro de mim
Tentando buscar alguma centelha de querer
De viver e continuar, você levou tudo consigo
E não vou recuperar
Terei que recriar, construir e superar
Tentar retornar a algo que me lembre
O que era com você
E que me faça esquecer
O que é ser sem você.