sábado, 29 de fevereiro de 2020

O tempo passa mas a essência permanece

Há muito não reflito sobre meus pensamentos, muito menos reinterpreto-os e traduzo-os para a forma escrita. Escrever sempre foi uma coisa que pude chamar de minha. Não sou boa em muitas coisas, ou sinto aquele prazer que vem do interno, das camadas enterradas da mente, ou melhor da alma. Deve ser por isso. Estou sempre pensando demais, refletindo demais, me contendo demais de forma lógica, quando o que faço, quando escrevo, não tem nada de lógico. Eu quero escrever, mas sem amarras, regras, sem realidade. Quero sentar com uma caneta e cuspir as palavras, parir, sem me podar, pois é assim que faço.
 Eu não nasci para ser escritora. Não nasci para contar histórias de amor, para despertar curiosidade, te prender num clímax e te surpreender no fim. Eu não sei fazer isso. O que eu sei é escrever sobre os cantinhos da vida, sobre os pensamentos evitados, refletir sobre os devaneios lunáticos e nunca mais lê-los. Eu posso até expor tudo, depois de certa matutação mental, mas nunca te mostrarei pessoalmente, nunca falarei sobre isso e muito menos nunca lerei para você. Acredito que agora, depois de alguns anos de amadurecimento, percebo que não mudei, mas me libertei um pouco. Não quero escolher palavras, temas, imagens que ilustrem o que digo. Eu quero escrever o que eu penso e o resto é trabalho seu.
Eu não nasci para ser escritora, não nasci para ganhar dinheiro com minhas escritas por que sei que elas não vendem, são pessoais demais, relaxadas demais, comuns demais. Eu sou uma romântica que gosta de ouvir Hardy, observando o céu nublado com um caderno na mão e me sentir num filme. Eu gosto de flutuar para fora da realidade, fora de tudo que me pertence e me colocar no lugar de um personagem que só existe nesses momentos, que passa 20 minutos olhando para o céu estrelado pensando em tudo mas sem falar nada. Na verdade eu sou assim, estou a todo momento pensando em tudo, criando tudo mas dificilmente falando e nunca expondo meus pensamentos, são meus e só. Pode ser que esta personagem que incorporo em momentos, seja só a minha forma mais natural, pura e sem lapidações de tudo que me atingiu durante a vida, creio que esta seja a minha essência, da criança com síndrome de Alice no país das Maravilhas, que sempre está sonhando acordada, buscando alguma forma de romantizar a vida, mas, como todos nós, sempre sendo puxada para a realidade. Não é atoa que sempre me identifiquei com Alice. Menina sonhadora, de pensamentos incompreendidos, que aprendeu a guardá-los bem numa caixinha com chave, numa gaveta, dentro de um armário num cantinho do lado esquerdo da cabeça.
Eu não nasci para ser escritora DE MANEIRA NENHUMA. Mas com certeza eu nasci para escrever.
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