quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Choro de Orquídeas

 Dedicado à minha primeira e eterna fã, como ela mesma se intitulava, minha mãe.

★ 04/06/1968  † 27/09/2021


Eu estive rezando desde que você se foi

Me sinto doer por dentro o peito

O copo de lágrimas amargo, quase cheio

O nó que se desfaz em devaneio

E no travesseiro ainda sinto o cheiro


Na brisa e na bossa, busco em mesas e em portas

A saudade que deixou e me levou com você

Busco em esquinas e em becos

Um relapso do teu beijo

Que grudou no meu desejo e não trouxe mais pra mim


Busco em fotografias e memórias

Fragmentos da nossa história, interrompida à força

Mas que eu não jogo fora


Ainda me pego lembrando

Das brigas e discussões, não me demoro

Não há o que ser feito, nem o que falar

Então o que não tem remédio, remediado está


Ainda me pego pensando

Num futuro construído, que dissolveu como

Um rio e ruiu com meu viver


O pensamento de não ser mais, de não ter mais

Me consome as entranhas

Me faz querer romper a pele e fugir, correr, buscar 

E me contentar

Mas não me contentarei, o teu riso não ouvirei

Seu cheiro não sentirei, o seu abraço

Seu beijo, sua voz, seu conselho

Seu amor que não cabe no peito me dói

E dói como nada nunca doeu


Dói a vida que ficou para trás

A vida que não terei

As memórias que não vêm

E as que nunca esquecerei


Dói a perda da inocência, a perda da certeza

Da segurança do cotidiano

Dói descobrir que nada é para sempre e que não tem data de validade

Vai embora a hora que vai, sem explicação

Sem aviso, sem dó nem piedade


E me deixa aqui, de mãos atadas

Deitada, encolhida dentro de mim

Tentando buscar alguma centelha de querer

De viver e continuar, você levou tudo consigo


E não vou recuperar

Terei que recriar, construir e superar

Tentar retornar a algo que me lembre 

O que era com você

E que me faça esquecer

O que é ser sem você.

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